sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Saber Ciências, direito e dever

Luis Carlos de Menezes 



"Cabe à escola transcender a cultura de consumo tecnológico e promover uma cultura científica prática, ética e crítica."

Vivemos numa época em que tudo depende do conhecimento científico. Dos alimentos às roupas, dos medicamentos aos transportes, da comunicação ao entretenimento, tudo passa pelas Ciências e pelas tecnologias a elas associadas. Fundadas em argumentos lógicos e verificações experimentais, elas nos permitiram superar um tempo de mitos e crendices, cuja graça lembramos em velhos rituais, mas cujas desgraças não queremos reviver em privações e pestes. 

Por isso, na Educação escolar, as Ciências devem ser pensadas como um equipamento essencial à vida e não como uma admiração passiva da "Ciência dos cientistas". Quem desconhece a radiação que aciona, a fibra que veste, a proteína que come e o analgésico que toma também não sabe quando a vida surgiu e como evoluiu ou que a estrela-dalva é o planeta Vênus, cuja luz refletida nos alcança em minutos, enquanto o brilho da estrela mais próxima leva anos para chegar aqui. Também desconhece que as Ciências não são feitas de verdades eternas. Por dependerem do permanente direito à dúvida, são adversárias de sectarismos, superstições e preconceitos.

As crianças e os jovens precisam ser apresentados ao mundo - que já encontram tão complexo - e essa introdução é incompleta sem as Ciências. Mas como ensinar, em poucos anos, saberes conseguidos em séculos? E como pode um professor fazer isso se ele mesmo reconhece suas limitações?  

 Comecemos por assegurar que bons professores não precisam ter todas as respostas, mas estimular, acolher e encaminhar todas as perguntas. Claro que também é preciso ensinar. Mas o quê, e com que ênfase? A escola pode e deve apresentar seus alunos às Ciências como linguagem, como instrumental prático e como visão de mundo, dando um tratamento diferente a essas três dimensões em cada etapa da formação.

Na Educação Infantil, as crianças começam a denominar e a qualificar objetos e processos de vivência imediata - nessa fase, a investigação também é lúdica. O corpo, os bichos, os veículos, as florestas, os rios e as ruas são personagens e cenários de suas fantasias, seus desenhos e seus textos. Os pequenos colecionam e classificam folhas, insetos e parafusos e começam a estabelecer conexões causais e práticas. Para que serve a higiene? Por que os pássaros fazem ninhos? Qual a relação entre nuvens e chuva?

Já a compreensão de ciclos naturais e seu aproveitamento energético, de equipamentos mecânicos e eletrônicos e sua forma operativa e de matérias-primas e processos produtivos exige maturidade maior - assim como o entendimento mais amplo da sexualidade só faz sentido ao se aproximar a puberdade, numa combinação de aspectos afetivos e éticos com os científicos.

Finalmente, quando os adolescentes se preparam para o mundo dos adultos, pode-se apresentar as Ciências com estrutura mais formal: as tecnologias de forma mais abstrata, as substâncias decompostas em elementos da tabela periódica, o Universo descortinado em galáxias se afastando e as espécies como um processo evolutivo, em que a biodiversidade é ameaçada pela intervenção humana reforçada pelas Ciências, mas ao mesmo tempo também vigiada por elas.

Por serem tão significativas na aventura humana, é indiscutível que as Ciências e suas técnicas devem ter presença garantida na formação escolar, ao lado das letras, das humanidades e das artes. Os jovens utilizam com naturalidade equipamentos de alta tecnologia e acompanham noticiários sobre avanços nas fronteiras do conhecimento. A escola pode ir além. Cabe a ela transcender essa cultura de consumo, de produtos ou de informação, promovendo uma cultura científica prática, ética e crítica. Quando isso acontece, também os professores se beneficiam e seguem aprendendo.

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